SCOUTING | ACANAC'17

Não há um numero suficiente de palavras para vos conseguir descrever o que foi o ACANAC 2017. Nunca vos vou conseguir transmitir nem metade do que foi este acampamento ou aquilo que o escutismo significa e impacta na minha vida. Aconteceu tanto, vivi tanto, fui tão mas tão feliz e a sensação de concretização, de dever cumprido, de objectivos alcançados após muitas portas fechadas, de cansaço que vale a pena são extremamente agradáveis e gratificantes. Espero mesmo conseguir transmitir a todos os escuteiros e não-escuteiros desse lado do ecrã o que foi esta última semana que passou, espero corresponder às expectativas.

Sou escuteira faz em Março dez anos e o acampamento nacional sempre foi um sonho deste meu tão grande percurso e poder concretizá-lo foi incrível (para frisar que este foi o segundo sonho de vida concretizado este ano!). Foi muito complicado chegar até ele e este ano tem sido um barco na tempestade que felizmente chegou a bom porto. Idanha-a-Nova foi o palco para mais um evento do Escutismo Católico Português que envolveu cerca de vinte e dois mil participantes com o tema geral de "Abraça o Futuro", muitas actividades, muitas tendas e construções, muitas filas mas também muito calor e muitos sorrisos assim como muitos abraços e muito pão congelado, pó e melancia.

Parti no dia 30 para o munícipio que acolheu a maior organização voluntária para jovens a nível nacional e mundial e que nos acolheu calorosamente e aí foi o inicio de algo grandioso. Dormimos numa construção elevada que não estava enterrada e que levou com cerca de três toneladas em cima e que foi acabada de construir às duas da manhã e seguida de um duche debaixo das estrelas num dos céus mais preenchidos que já vi. Alguma vez olharam para cima para o chuveiro e tiveram um céu aberto e estrelado à vossa espera? É único e mágico, para além da viagem de quatro horas que passamos inteirinha a cantar a plenos pulmões, foi especial. Também recordo com um aperto no peito a sensação de entrar no pórtico e de descobrir pela primeira vez como é o campo realmente, lembro com saudade o abraço que o Coimbra me deu na concentração antes de partirmos e de me perguntar se estava pronta para concretizar um sonho ao qual respondi prontamente com um "Sempre!".

Os pores do sol foram sempre especiais assim como a Eucaristia da meia-noite  numa cerimónia bonita e intimista. Foi o raid de madrugada, o cafuné, as actividades náuticas, as brincadeiras nas canoas e a diversão do escorrega, a casca de melancia que eu e o Zé repartimos - como devem imaginar já não eram horas decentes para isto acontecera- a companhia do pessoal nas actividades radicais e o conhecimento e a simpatia que obtivemos dos habitantes de uma aldeia de Idanha, sempre calorosos e prontos a ajudar. Foi lavarmos a loiça de 40 pessoas às duas da manhã enquanto estes ressonavam, as guerras de glitter, as caminhadas infernais até Almortão e as subidas dos socalcos dos pioneiros, os abraços de grupo, as festas, os momentos de silêncio. Foi a corridinha das quatro da manhã à volta de uma igreja para arrebitar antes do raid, nunca me esquecerei dos raps improvisados e das cantorias do "fui comprar um geladoooo ao pingo doceeee" e dos All Black. Foi a cara que esculpiram numa melancia e que andavam a perguntar se alguém queria dar uma trinca no Ernesto, os concertos de chuveiro - principalmente o anel de rubi e a cabritinha - as estrelas cadentes que caiam sobre nós, os desejos proferidos e as palavras trocadas. O rodar do lenço e o cantar ao lado de tantos outros que nutrem o mesmo que eu por tudo isto. Penso que me esqueci de metade das coisas mas aqui fica um pequeno pedaço do que foi viver com tantos mamíferos de lenço ao pescoço.


O Acanac 2017 foram os banhos de cinco minutos com mais quatro pessoas a tomarem banho no mesmo duche e logo de seguida ficarmos novamente cheios de pó, de partilhar experiências e técnicas, histórias e ideias. Não é fácil viver com as mesmas pessoas durante uma semana mas deu para ganharmos mais confiança uns nos outros e para nos conhecermos muito melhor. Durante a semana que passou consegui trocar imensas insígnias - e tenho favoritas como a de Braga, Santarém, Genebra e Porto que foram trocadas com pessoas especiais - deu para conhecer pessoas incríveis como a Bibi, o Joao do Námestí J,,  de voltar a encontrar a Farinha, o Rui e a Sofia e de fortalecer laços com a Catarina, a Rafa, os Zés, a Nor, a Bá, o Alex, o João e o Aless e de viver ainda mais perto da Patrícia e da Márcia. Foi especial e todos eles sabem o quão incrível fizeram este acampamento.

Foi uma semana dura com muuuuuito calor, muitas garrafas de água e muito protector solar. Foram muitas gotas de suor e muitas horas de sol na fuça. Foram noites frescas e de sweat que contratavam 
com os dias solarengos de mangas arregaçadas, chapéu e óculos de sol. Vivemos em autonomia e em espírito de festa dia sim dia sim. Foi a de abertura e a emoção de ver o nosso Presidente, a festa de sub campo, o festão dos pioneiros - e as cavalitas, a guerra de água e os pós coloridos a voarem - e claro o encerramento que foi do outro mundo, para curtir os últimos momentos e dançar como se não houvesse amanhã com o pessoal todo. Só faltou mesmo ter visto o último nascer-do sol com a Catarina e a Rafa e ter estrelado um ovo no alcatrão. Como sempre, houve muitas coisas que podiam ter corrido melhor, elas existem sempre mas também há coisas que não podemos contornar, verdade?

Houve tempo para tudo, para cantar, para chorar, para sorrir, para orar, para esperar, só não houve muito tempo para dormir a horas decentes e foram quase duas directas numa semana e à volta de oito sestas nos mais diversos locais e ambientes, mas conseguimos aproveitar muito aquilo que o campo nos dava. Comuniquei com estrangeiros, disse bom dia às onze da noite, apanhei sotaques, discuti vocabulário com nortenhos, gritei pela minha secção e pelo meu agrupamento e caramba, temos uma força do caraças. Obrigada ao agrupamento, à comunidade e à equipa que tão bem me acolheu e com quem pude concretizar este sonho. Vestir azul é das coisas mais incríveis e poder fazer parte destas imensas constelações de caras que envergam com orgulho uma promessa de vida e um lenço que a representa e que recorda a imensidão do céu e a profundidade dos mares e que nos impele a ir "sempre mais longe". Sei lá, em Idanha estava tudo bem, eu não sabia que dia era, ou dia da semana ou quantos dias faltavam para voltar. Eu entrei a 110% no espírito daquilo e foi um choque enorme voltar para casa onde os problemas mal caíram em mim assim que cheguei. Enfim, é hora de voltar à realidade e de guardar numa gaveta especial do coração esta semana que foi uma das melhores da minha vida, para recordar sempre que possível. Foi demasiado bom e tenho mesmo mesmo pena de todos aqueles que nunca experimentaram o escutismo ou que tiveram uma má experiência no mesmo, vocês não têm noção no mundo que isto é. Escutismo, estou apaixonada e do que depender de mim é para sempre. Obrigada. Como digo sempre: é tão bom fazer parte disto.


5 comentários:

  1. Que bonito, fiquei completamente presa ao ecrã com a tua narrativa. Nunca participei nos Escuteiros, mas só oiço coisas boas. Ler a tua experiência em tamanha actividade deixou-me um nozinho na barriga, porém, fico mesmo feliz por alguém como tu ter aproveitado e experenciado isto, porque, o fizeste de uma forma muito bonita e melhor do que eu alguma vez faria. Soa tão intensa a semana, ficando com a certeza que foi mesmo, que só te fez crescer ainda mais - é possível? - e que vens de lá com o coração bem quentinho. Que bom!
    E, agora, bem-vinda de novo ao Mundo. <3

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  2. Caramba, que saudades tenho de ser escuteira! Este texto fez-me, literalmente, arrepiar por me fazeres relembrar de momentos que passei nos meus tempos de escuteira. Sinto sempre que ter passado pelo CNE definiu grande parte da pessoa que sou hoje e que me deu uma quantidade de aprendizagens inimagináveis que levo para a vida (:

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  3. É fantástico ver como passamos por situações e momentos semelhantes mesmo sendo de secções diferentes e termos vivido coisas (quase) totalmente distintas. O ACANAC foi do caraças e apesar das falhas que houveram, a meu ver, voltava sem pestanejar e aí teríamos o nosso tempo de conversa. Foi ótimo conhecer-te e o paragrafo que me dedicaste deixou-me com um sorriso do tamanho do mundo. Sentimos exactamente o mesmo e no olhar do outro parecíamos que estávamos super à vontade. És uma pessoa especial e marcaste muito esta atividade pela positiva. Vamo-nos ver novamente, eu sinto isso. Obrigado por tudo, mesmo!!!
    Um beijo enorme e um abraço super apertado - como o nosso último. :)
    ps. - não notei que tínhamos chapéus iguais mas até nisso somos iguais ahaha

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  4. oh pah! fiquei mesmo colada a ler este texto! nunca fui escuteira, mas gostava de ter sido e talvez por este texto me tenha deixado com uma saudade de algo que nunca fui :*

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  5. Sempre admirei o espírito dos escutismo, afinal, tenho na minha vida duas pessoas especiais que se dedicam a esta atividade, no entanto, viajar por este teu relato trouxe ao de cima um outro encanto... Confesso que enquanto pessoa, nunca tive a curiosidade de entrar nos escuteiros, todavia, é bonita a forma como tu descreves os sentimentos que nascem em ti, graças a isso, e é deveras impagável presenciar isso de tão "perto"!

    Continua assim, Leonor, a valorizar as pequenas coisas, as tuas pessoas, a viver os momentos e a aprender! É uma lição que eu sei bem que tu já conheces, e acredito que levarás isso contigo para o resto da tua vida! Foi demasiado gratificante ler-te, especialmente neste texto!

    Beijinhos,
    LYNE

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